Nunca fui grande fã de corrida de baratinhas. Acordava cedo pra ver o Piquet e gostava muito mais quando ele fazia alguma merda do que quando ganhava uma corrida. Senna era meio mala, um grande craque antipático e soberbo, tal qual um Rogério Ceni, um Cristiano Ronaldo. Craques fodas. E malas.
Mas aí o mundo ficou ainda mais chato e mala que todos esses caras juntos. E, correndo de baratinha, surge um preto que bate todos os recordes. Que ganha milhões, mas defende as causas que ele (e eu) acham justas. Piquet, que é meu faixa, seria hoje um direitista, um centrista? Senna: seria um defensor dos oprimidos? Carregaria bandeirinha do Brasil tal um bolsominion acéfalo de camisa pólo e sapatênis? Vai saber.
E o preto, biliardário, gente boa, que ganhou tudo e defende os excluídos? Sei lá, mas tô com ele.
E hoje perdemos Quino, o lendário quadrinhista argentino, criador da Mafalda, “a menina que questiona o mundo”. Um gigante, dos desenhos, das tiras cômicas, reflexivas, da contestação, do refletir o cotidiano. Obrigado, seo Joaquín.
Ouvindo agora o novo álbum dos barulhentos britânicos do IDLES, Ultra Mono. Preferia tirar o vinil do plástico, apreciar a capa, acompanhar as letras pelo encarte. Já que não rola, dá pra ir vendo as animações no Spotify, e também as letras (não todas), além de um storyline, legalzinho. E, claro, caçando na rede tudo que estão falando por aí (não tem muita coisa, ainda, o que é bom, evitando o hype).
Entre os muitos links, o do site oficial da banda que, se não tem muita coisa, tem essa camisa no merch. Adorei
Só dançando
Model village foi a que gostei mais. E viva o barulho, o rock, o indie, o engajamento. Apreciado de que forma for.
Nasci no morro. Tive, e tenho, amigos playboys. Amigos de verdade. “Culpa” de Seo Alceu, o bom e velho e pai que, professor do MOBRAL, tratou de colocar o filho no melhor colégio da cidade. Dona Lúcia não me deixava ir jogar bola no campinho em frente. Lá, filho, lama, vagabundos. O Colégio dos padres, sim, é futuro.
Eu faria diferente?
O tempo passa. Nostalgia. Rock. Punk Rock. O meu bairro, a minha rua …
40 anos depois, temos esses caras aí, Flicts, cantando toda essa coisa punkada, gritada. “A vida é necessidade. Entregar-se é morrer”. A luta antifascista. Me fazendo lembrar do morro, da grade, dos moleques se divertindo enquanto eu varria a calçada, da carona que não me deram, da revolta que eu não devo (devo?) transmitir pros meus pequenos.
Life goes on. A banda: “Quem são os caras que seguram sua barra, sem querer saber o que vai acontecer?”
As pessoas se preocupam com o Rock in Rio. As pessoas gostam de “levanta a mão”, de “sai do chão”, de show de banda velha, de selfies com linguinha de fora, de pirotecnia. Só que eu não gosto das pessoas. De quase todas as pessoas, e muito menos dessas. Enquanto os curupiras se deliciavam com Alter Bridge, eu troquei de canal e vi o Bis transmitindo o Glastonbury com Patti Smith, Paul Weller e tals. Lindos. Mas velhos. Desliga tudo. Liga o note. Busca novidade. Até que, mermão, que porra é essa??
Adeus velhinhos caquéticos. A Shilpinha acaba de encerrar a briga por melhor música do ano. Lambam vossas rugas. I’m out.
Este humilde e desnecessário blog parece que virou um obituário. O último post, há longos 4 meses, tratava das perdas de Kid Vinil e Chris Cornell. A vida seguiu medíocre, mundana, igual. Morreram pessoas boas, endeusaram craques mimados, prenderam eleitos por milhões. Imagens filtradas sempre fizeram parecer que tudo estava bem. Mas a morte, meu irmão, é a morte.
Daí que numa sexta em que aumentava a gostosa apreensão pela chegada do The Who ao nosso país escroto, eis que ela, a morte, resolve atacar impiedosamente, de novo. Harry Dean Stanton atuou em Pretty in Pink, um marco absoluto dos 80’s e cuja faixa título é uma das mais lindas músicas all time. O veinho magricela que fez trocentos filmes partiu. Se foi. Um abraço.
Mas como desgraça pouca é bobagem, também subiu Grant Hart. O batera do Husker Du, uma das mais importantes, lindas, maravilhosas e descaralhantes bandas que habitaram essa bolota, sucumbiu a algumas dessas merdas que infectam nossas células.
Eu não sei se eu seria a mesma pessoa se não fosse o Kid Vinil. Depois de viver o boom do rock nacional dos anos 80, ir a muitos shows e, enfim, estar dentro daquele furacão, me pego, ali na virada de década, meio sem rumo, querendo continuar ouvindo músicas legais, e novas, me recusando a aceitar que as rádios já tinham enjoado do rock. Havia a Bizz, a Flu FM, eu comecei fuçar o underground, ler fanzines, descobrir os indies, as guitar bands brazucas. Eu queria o rock, eu queria conhecer cada vez mais aquilo. E, sei lá quando, descobri que aquele cara que cantava “Eu sou Boy”, que parecia só mais um Doutor Silvana, um Léo Jaime mais excêntrico, era, sim, uma enciclopédia ambulante, um colecionador de discos, um radialista e DJ carismático, o nosso John Peel. Passa o tempo, e só com a maravilhosa internet volto a, não sei quando (de novo, lesado e velho), descobrir o velho Kid e seus programas na 89 FM, 107 FM, Brasil 2000. Lá estava ele tocando, com o mesmo tesão, uma banda progressiva dos sixties ou a mais nova sensação da Nova Zelândia. Um amante do rock que eu admirei, que segui, que bati um papo no Record Store Day em 2015. Um puta cara.
E nesse meio tempo entre a morte do rock brasileiro dos 80 e minha sanha por não abandonar aquilo de jeito nenhum, houve o tal do grunge. A flanela, a distorção, os malucos daquela cidade feia. Acho (sei lá novamente) que Hunger Strike foi meu segundo grunge, depois de Smells like teen spirit. Caralho, que voz é essa? Quem é esse maluco? E lá estava eu, descobrindo o Soundgarden, virtuosa banda naquele cenário distorcido. Na minha humilde e desnecessária opinião que ninguém pediu Mark Lanegan ainda é o maior vocalista daquela cena. E o único que ainda não morreu. Mas essa música aí embaixo é uma das que me fez amar essa banda e seu puta vocalista.
Cena do banco de alimentos, uma das mais emocionantes
Vai ver é porque minha aposentadoria não tá tão longe. Ou porque a aposentadoria de meu pai e outras pessoas próximas se mostrou um desastre. Um que de concordar que o sistema previdenciário precisa ser discutido no Brasil. Um tanto de coração mole mesmo. Fato é que Eu, Daniel Blake, filme inglês do diretor Ken Loach, foi o que mais gostei de todos que vi nesse período pré e pós Oscar 2017 ( o filme foi ignorado pela Academia, mas venceu a Palma de Ouro).
Não há como passar incólume à saga de Dan atrás de seu auxílio desemprego numa Inglaterra também atingida por crise financeira. Seu vizinho negro, “China”, “importa” tênis caros atravessados da China por um funcionário da empresa fabricante para vendê-los pela metade do preço nas ruas. Será essa uma causa ou efeito da tal crise, esse aterrador monstro de nome curto e efeito devastador? Sessões do filme terminaram aos gritos de “Fora, Temer” em alguns locais no Brasil. Conhecemos o problema. A história do senhor carpinteiro que não pode trabalhar porque a médica não deixa, de sua amiga mãe solteira que não consegue emprego pra criar dignamente seus filhos, e a crueldade do sistema perante tudo isso, é não menos do que um soco no estômago.
já que o movimento de translação da terra nos trouxe mais um ano (o quatro-milionésimo-e-alguma-coisa), que ele seja menos escroto, que a escrota raça humana esqueça essas divindades escrotas e se lembrem de reciclar o lixo, que não comprem bobagens que não precisam e que não têm dinheiro pra pagar, que deixem em paz os diferentes, que os diferentes se deixem em paz e não encham o meu saco e, claro, que o flamengo ganhe alguma coisa nessa porra!
Lá no fim do século passado e início do século agora, musicomaníacos loucos como eu fuçávamos sempre sites como Pitchfork, Stereogum, Epitonic, Insound e tantos outros blogs que viviam de descobrir bandas novas numa época em que a ressaca pelos maravilhosos 90’s era muito forte. Strokes e White Stripes meteram o pé na porta no início do presente milênio. Mas os porões e os estúdios caseiros não estavam vazios, claro. Por aqui se baixava mp3 e se queimava CD-R’s a torto e a direito. Na minha modesta opinião o indie nunca foi tão indie quanto nos anos 2001 a 2005.
Recentemente tenho caçado no Spotify aquelas obscuridades ali guardadas no meus CDs com capinha artesanal feitas em casa com Gimp versão 1.2 e impressora jato de tinta. Muitas bandas eu sequer encontro, outras tem tão poucas audições que me pergunto como eu conheço aquilo. Muitas eu nem sei se gosto mais.
E aí, quer conhecer Monroe Mustang, Fraquet, No Knife, Starsailor, Actionslacks, The Mockers, The High Dials, Pernice Brothers? Fuck the mainstream 🙂
Amem o futebol. Perdesse hoje o Flamengo para o Íbis, um time que, assim como o Palmeiras, ou o Terceirense, ou o Asco, que não têm mundial, toda a arco-íris estaria igualmente se regojizando. A democracia que falta no Brasil está lindamente representada no esporte bretão onde todos tem vez, nem que seja compartilhando aqueles memes ridículos reaproveitados pelos que tem preguiça, ou incompetência, de se manifestar por si só.
Entre tantas matérias por aí reportando o fato de que, no dia 24 de setembro, ontem, o álbum que quebrou tudo, que ditou uma nova ordem, que colocou a distorção nas paradas, completou 25 anos, essa da SPIN me chamou atenção pelo depoimento do grande Eddie Vedder, outro que encabeçava aquele turbilhão de música americana made in 1991:
“It was summertime in Seattle, and our record Ten was coming out in about a week. There were a few copies of Nevermind floating around on cassette before the record was out, and I remember hearing it on a Walkman, walking by myself on a rare nice day when the clouds broke for the first time in months. (…) Later that summer, Fugazi were playing in the Mojave Desert. We drove in this little Toyota with Nevermind playing. You could just listen to that thing on repeat, it never dipped.”
E eu, que atravessei o mesmo Mojave nesse início de 2016, ouvindo na rádio via satélite da van que compartilhava com família e amigos … Pearl Jam! no Rio de Janeiro! (era uma rádio que só tocava PJ ao vivo). Minha emoção naquele momento talvez não seja tanta quanto a de ouvir o recém-lançado Nevermind indo a um show do Fugazi, claro, mas quem irá discordar que essas memórias, as minhas e a de Eddie :-), em que música e bons momentos se cruzam são, por falta de palavra melhor, inesquecíveis.
Hoje, 30 de agosto, fuçando os feeds da vida, descobri que é o dia em que vieram ao mundo dois caras importantíssimos para a cultura pop e dos quais sou fã: Robert Crumb e John Peel. Do primeiro, grande quadrinhista americano, confesso que não estou entre os fãs mais ardorosos. Mas é impossível desconsiderar a importância de Crumb para a história dos quadrinhos. Uma espécie de precursor dos desenhos toscos e azeda verve política.
Seu livro “Blues”, que eu li na edição brasileira de 2010, foi meio que um pontapé inicial na minha nova mania de caçar documentários sobre música, seja em que mídia for. Neste momento em que estou estou mergulhado no rap, com a série “Get Down” e os quadrinhos de “Ghetto Brothers”, só tenho a agradecer ao senhor Robert.
Já o DJ e radialista John Peel, falecido em 2004, talvez seja um dos meus maiores inspiradores na maravilhosa arte de caçar novos sons, de nunca se render ao estabelecido nas famigeradas e vendidas paradas musicais. A marca “Peel Sessions” está sempre associada ao frescor, ao tesão, ao alive and kicking de seus convidados nos estúdios da BBC. Um bom exemplo está aqui. Que se registre no seu aniversário sua imagem e sua música predileta: