Mais um ciclo

Eu tenho o hábito de manter um diário. Mas não pra lembrar o que eu comi, ou o quanto eu chorei. Tudo que eu leio e me pega, eu anoto.

Então,

Que sejamos “tão racionais quanto a ciência e tão irracionais quanto a arte”, afinal, “não se ganha nada ensinando uma palavra nova a um papagaio”, e que no “eterno combate entre os indignos e os indignados”, possamos “descascar mais e desembrulhar menos”. Nesse mundo em que “a nuance morreu”, sou “muito velho pra quebrar, e muito novo pra domar”. Sou adulto, vivo meu “entendimento de regras versus estreitamento de imaginação”. Mas, por favor “não aumente sua voz, melhore seus argumentos”.

“Não é uma contradição que o combate à corrupção possa piorar uma democracia?”. Vivo
“olhando pro céu e tropeçando nos degraus” e tento “conciliar a manutenção da saúde com a necessidade existencial da cerveja”.

Resumo-me: “tudo que está vivo, mesmo que tenha morrido, me interessa. Tudo que já morreu, mesmo que esteja vivo, não me interessa”

Tudo que está entre aspas não fui que disse, lógico. Felizmente vivo num mundo repleto de pessoas muito mais inteligentes do que eu.

Parabéns

Nesta data este humilde e desimportante diário pessoal completa inacreditáveis 18 anos no mesmo lugar: neste universo que, embora digital, é feito e afeito às criações humanas como elas são: incríveis e horrendas, dúbias, espetaculares e terríveis. SIGAMOS.

Saudades do passarinho azul :-)

Nunca pensei que iria dizer isso. Mas vou sentir saudades do Twitter. Acabo de encerrar minha conta, não sem antes receber o arquivo com meus dados para, sei lá, rever algum dia as besteiras que escrevi, tweets entusiasmados ou rancorosos, quase sempre na proporção errada. Não mais o quente ao vivo nos intervalos dos jogos, nas idiotices políticas, os fanbases insuportáveis. E o contato “estreito” com gente legal, de todos os mundos. Vai fazer falta.

14 anos da primeira postagem no microblog

O Facebook sempre foi chato demais, desde a época de joguinhos pentelhos e pessoas que “falam demais por não ter nada a dizer”. O Instagram é o mundo fake, falso, fútil. Tô lá ainda, mas o Android tá programado para que ele funcione 20 minutos por dia. E nunca chego a isso. Para as outras redes nunca tive saco para testar o suficiente para dizer se são legais ou não. Tenho certeza que não são.

O bilionário lá não vai sentir minha falta. Outros, humanos ou não, terão ideias mirabolantes e eu, cético, vou dar uma olhada, como a um trailer de um filme que eu não vou assistir. Antissocial.

Donita

A gente vai fazendo scrolling, toda hora, todo dia. Vendo coisas repetidas e desnecessárias. Aí eu vejo agora, e não é desnecessário, que Donita Sparks completa 60 anos. Donita, vocal e guitarra do L7. L7? A banda que eu assisti no Rock in Rio, no mesmo dia do Nirvana. O que não quer dizer absolutamente nada, tendo em vista que Bricks Are Heavy, o maior trabalho dela, delas no caso, já que foi uma banda formada só pelo sexo forte, foi o primeiro CD que eu comprei na vida. Antes de ter um aparelho que tocasse CD (eu pagava um consórcio. Sim, um consórcio para adquirir um aparelho de CD).

Obrigado Donita Sparks

30 anos hoje

Bob Mould é careca. E é gay. Quando eu tinha 8 anos ele fundou, junto com o Greg e o saudoso Grant, uma banda de hardcore que era tudo, e também hardcore. Não posso falar de Husker Du, sou suspeito. A banda acabou com os cara tudo drogado e brigado. Rock.

Em 1992 o rock barulhento mandava no mundo, nas paradas, na porra toda (que tempos, que tempos). E Bob formou o Açúcar. Que há exatos 30 anos atrás lançou Copper Blue, o disco que tem Changes, tem Helpless, tem Man on the Moon e tem A good Idea. Que eu ouvi, bati cabeça, fiz air guitar, air drums, air pandeiro.

Em 2013 eu fui ao show do Grant Hart em São Paulo. Eu e mais 20 pessoas. No final eu pude falar que o amava. E que também amava o Bob. Ele não deve ter gostado disso.

Não tem Sugar no Wikipedia, A good idea não tem vídeo. Eu nunca entendi a letra. Mas eu tava lá. E juro que era foda.

Tambores psicodélicos

No início dos maravilhosos anos 90 havia o rock. Nos dois primeiros anos da década foram lançados alguns dos melhores discos de todos os tempos. Em todas as listas, dessas que agora saem toda semana, sempre vai ter um grunge e um Beatles. Um britpop e um Led Zepellin. Guitarras dominavam e eu gostava muito. 1994 teve morte do Senna e Copa do Mundo. E Raimundos. Rock com rabeca. Era mais purista e preconceituoso que hoje, não a ponto de não gostar daquela mistura. Era alto, rock rebelde.

Mas me lembro bem de quando ouvi Da Lama ao Caos pela primeira vez. Tinha guitarra, tinha mistura, mas não tinha putaria. “Posso sair daqui pra me organizar, Posso sair daqui pra desorganizar”. Tinha um gênio lá, tinha uns tambores, uma psicodelia. Tinha Hendrix e Luiz Gonzaga. Pirei. Depois de muito indie em inglês tocado por bandas brasileiras que eu amava, eu agora podia dizer que também tinha música em português que achava foda. Vieram a reboque duas de minhas bandas preferidas: Devotos do Ódio e Mundo Livre S.A.

O imperdível Festival In-Edit trouxe na programação deste ano o filme sobre essa cena recifense.

Com depoimentos de seus criadores, companheiros e herdeiros, Jura Capela nos conta como que um movimento estético, vindo do mangue, aumentou a visibilidade das periferias e manifestações culturais da região metropolitana do Recife. Unindo diversas vertentes como música, cinema, artes visuais e literatura, o Manguebeat não só se consolidou um dos mais importantes movimentos culturais das últimas décadas, mas também gravou para a posteridade nomes como Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, o festival Abril Pro Rock, entre outros.

Outra que me chamou muita atenção logo de cara foi Maracatu Atômico. Cara, com um nome desse 🙂 Som que demoraria muito tempo para eu descobrir tratar-se de uma música de Gilberto Gil. Lúcio Maia, o ótimo guitarrista da Nação Zumbi, inclusive, fala no filme que eles eram bons de regravação. Concordo totalmente até porque, muito tempo depois, em 2017, a Nação Zumbi cometeria Radiola NZ, um ótimo disco de covers:

Quando um filme termina e eu tenho vontade de fazer um monte de coisa relacionada a ele, é porque realmente curti muito. No caso, vim logo escrever isso, ouvindo as bandas do movimento, buscar meus CD no fundo do armário, ripar, ler o encarte. Relembrar essa macumba. Salve Chico Science!

Velhas ondas radiofônicas

Essa é uma história de amor. Vamos a ela …

Todos temos aquelas lembranças da infância, aquele momento que continua vívido na memória, aquele instante que não se apaga. Você não se lembra de alguma coisa que aconteceu ano passado (ainda mais atualmente, onde parece que acontecem milhares de coisas todo dia), mas tem aquele momento marcado na sua mente. Ou vários deles. Como o móvel que tocava som (sim) em que meu pai ouvia jogos do Fluminense e discos de bolero.

Um móvel com toca-discos escondido


Minha mãe tinha, e ainda tem, uma mania curiosa. A primeira coisa que faz quando acorda é ligar o rádio. Sempre foi assim. Eu tomava meu lanche e me preparava para a escola ao som de algum comunicador Globo. 1220AM. Um conjunto de letras e números que diz muito pra muita gente. Show do Antônio Carlos era cedinho, Haroldo de Andrade tinha debate ao meio-dia, Luiz de França tinha efemérides vespertinas. Mamãe só dava um descanso pro bichinho depois da Ave Maria.


Uma escapadinha para a Tupi, Nacional, Tamoio. Bastava uma mudança na programação pra Dona Lúcia tentar achar abrigo em outras ondas curtas. Mas sempre voltava. Aqueles caras faziam parte da família, aquelas notícias, O Globo no Ar de hora em hora, eram verdades incontestáveis. Nos fins de semana a programação mudava. Tinha especiais com Roberto Carlos, tinha futebol. O radinho nunca descansava.
Com a adolescência, os amigos, o pop-rock que dava as caras, Dona Lúcia perdeu minha companhia junto ao aparelho, aquilo já não me interessava tanto. Mas a semente estava plantada.

Nas FM, mais descoladas e de som melhor, tinha Rádio Cidade e Transamérica (Rock que Rola por Essas Bandas, clássico total). E tinha a Fluminense FM de Niterói, a Maldita 94,9 Khz me pirando total. Foi o suficiente pra me descolar do pop rock brazuca que inundava o dial. Sempre gostei muito de Titãs e Ira!, mas não gostava muito do resto. E a Maldita me fez caminhar para outro lado. Do lado do Mack Twist, que nas manhãs tocava skate rock e me adrenalizava com os maravilhosos clássicos Institucionalized, do Suicidal Tendencies, e Johhny Hit and Run Paulene, do X, Surfista Calhorda, dos Replicantes, entre tantos outros. Sons que moldam uma personalidade, marcam uma vida, hits de uma existência. Você se sente meio dono. Tinha muito mais naquela estação niteroiense: o grande José Roberto Mahr e seus Novas Tendências. Ah, quinta-feira à noite era dia de ajeitar bem o Walkman no único lugar da casa que o sinal não fugia, e curtir aquelas duas horas (uma de indie, uma de eletrônicos) e ouvir um mundo maravilhoso de novos sons. Eu lia na BIZZ e esperava o José Roberto Mahr tocar. Aliás, eu tive o prazer de conhecer o DJ Zé Roberto, assistindo a gravação de um programa seu, já na Cidade FM. Uma baita experiência, assistindo tudo no estúdio, ao vivaço, e ainda levando pra casa os prêmios do dia, um poster e uma camiseta do The Doors, o filme que estava estreando Brasil.

Philips SkyMaster só tinha rádio e maravilhosos controles de volume independentes deslizantes (!). O Walkman Sony (a pilhas) foi comprado com o (uau) cartão de crédito de um amigo. Muita modernidade.


Mas voltando à Flu FM de Niterói: um marco na vida dos poucos que foram expostos a suas ondas sonoras (poucos, porque o alcance era pequeno). Eu gravava vários programas: além do NT, o College Radio, do Rodrigo Lariú, que até hoje faz seu belo trabalho em prol das guitar bands brazucas, com seu selo Midsummer Madness, e o Hellradio, que teve vida curta, apresentado por Tom Leão e o baixista da Plebe, André X. Tinha ainda um programa que você mandava a programação inteira pra eles tocarem, tipo “um-programa-só-seu” (mas que, na minha vez, foi editado e colocaram coisas que eu não pedi! 🙂


Inicio dos anos 90. O tempo não pára. Agora é hora de trabalhar e ganhar dinheiro. E viver a chegada do revolucionário Compact Disc. O redondinho brilhante prometia qualidade superior, mais tempo de música, mais isso e melhor aquilo. Enquanto isso, nos sebos do Largo de São Francisco, centrão do Rio de Janeiro, vinis a 1 real, afinal o povo só queria a novidade a laser. Várias tardes de sexta-feira dedicadas ao garimpo do bichão preto, feio e chiado, papelão amassado, de som ruim e tosco (vinis não eram hype, não eram caríssimos, viviam um deprimente fim de sua primeira vida). Enquanto no mesmo centrão do Rio de Janeiro eu comprava o primeiro CD da minha vida, Bricks are heavy, do L7, eu aguardava a sorte de ser contemplado no consórcio do meu 4 em 1 Sharp (rádio, duplo deck, CD e vinil, o que pode ser mais excitante?).

Quando finalmente fui contemplado com aquela pequena maravilha, mal sabia o que ouvir primeiro: sintonizar a Flu FM e dar um REC naquele cassete virgem BASF 90 comprado no camelô da Uruguaiana, sentir a emoção de botar o CD na gavetinha e ver o painelzinho digital laranja anunciar o número e a duração da faixa ou meter o vinilzão do Ten e cantar Alive a plenos pulmões?
Foi no aparelho Sharp que até hoje sobrevive na casa da Dona Lúcia (olha ela aí de novo) que eu gravei fitinhas cassete pra dar de presente aos amigos, naquela ânsia de “propagar os bons sons” (Fábio Massari). Nele ouvi música tão alto que, mesmo de fones ouvido, acordava meu pai. Naquele aparelho de som o rádio já brigava por espaço com as mídias. Além da Flu FM pouca coisa chamava atenção no dial AM/FM: um futebol no AM, “comunicadores” chatos nas FM, frequência que a dona Lúcia nunca ouviu: o radinho na cozinha era só AM, o aparelho “da sala” era muito difícil de mexer.

Rádio, disco, fita, CD, display de led. Um companheiro de muitas e agradáveis horas

No saudoso e porraloka período em que morei com amigos no Rio de Janeiro eu comprei um CD player portátil, tipo boombox, para alegrar nossas farras naquele apartamento com muitas histórias pra contar. As já citadas rádios e sua programação rock dividiam espaço com alguns CD e, principalmente, com gravações em fitas cassete da programação, de demotapes recebidas pelo correio e do bom e velho escambo: alguém gravava, passava, copiava, roubava. Piratas!

Que saudade desse carinha

Quando fui em morar em Manaus, as primeiras coisas que comprei, depois da geladeira e do colchão, foram um computador e um aparelho de som. O desktop já começava a ser imprescindível em um lar e o incrível Pionner, adquirido na Zona Franca de Manaus, sintonizava rádio, claro, e tinha, ainda, além do CD player, um tocador de minidisc! Sim, agora eu podia comprar disquinhos virgens e gravar rádio e CD (alugados) com qualidade digital. E podia, ainda, pasmem, escrever e gravar os nomes das músicas gravadas, que iriam aparecer no lindo display azul.

Muita alegria para um jovem solteiro e apaixonado (por som)

A entrada em cena daquela CPU branca, do monitor CRT e da conexão discada são o início da nova era. Não sem saudosismo: Napster, Audiogalaxy, Soulseek, madrugadas em claro. Mas isso é outra história.

Onde toca rádio nesse troço?

MottaRide004

Antiga estação ferroviária de Ubá

Rodeiro
Piraúba
Rio Novo
Juiz de Fora – Coronel Pacheco – Tabuleiro – Rio Pomba – Ubá – Rodeiro – Sobral Pinto – Astolfo Dutra – Piraúba – Guarani – Rio Novo – Goianá – Coronel Pacheco – Juiz de Fora
Aproximadamente 230 km

Percorrido em 23 de janeiro de 2022, com uma Honda CB 500X

MottaRide003

Registro do Paraibuna, caminho novo da Estrada Real

Em Rio das Flores , muitas fazendas da época do Ciclo do Café
Mais uma das muitas estações de trem abandonadas, desta feita em Sapucaia
Além Paraíba
Aproximadamente 360 km

Percorrido em 16 de janeiro de 2022, com uma Honda CB 500X

MottaRide001

O Santuário Ecológico de Água Santa fica próximo à cidade de Bicas – MG. Conheci por intermédio desse link

Pequeri é pequena e simpática
Mar de Espanha
Ruína da antiga estação de Chiador
185 km mais ou menos. O único trecho realmente ruim é o que liga Mar de Espanha a Chiador, cheio de “costela de vaca”

Percorrido em 6 de novembro de 2021, com uma Honda CB 500X