Tambores psicodélicos

No início dos maravilhosos anos 90 havia o rock. Nos dois primeiros anos da década foram lançados alguns dos melhores discos de todos os tempos. Em todas as listas, dessas que agora saem toda semana, sempre vai ter um grunge e um Beatles. Um britpop e um Led Zepellin. Guitarras dominavam e eu gostava muito. 1994 teve morte do Senna e Copa do Mundo. E Raimundos. Rock com rabeca. Era mais purista e preconceituoso que hoje, não a ponto de não gostar daquela mistura. Era alto, rock rebelde.

Mas me lembro bem de quando ouvi Da Lama ao Caos pela primeira vez. Tinha guitarra, tinha mistura, mas não tinha putaria. “Posso sair daqui pra me organizar, Posso sair daqui pra desorganizar”. Tinha um gênio lá, tinha uns tambores, uma psicodelia. Tinha Hendrix e Luiz Gonzaga. Pirei. Depois de muito indie em inglês tocado por bandas brasileiras que eu amava, eu agora podia dizer que também tinha música em português que achava foda. Vieram a reboque duas de minhas bandas preferidas: Devotos do Ódio e Mundo Livre S.A.

O imperdível Festival In-Edit trouxe na programação deste ano o filme sobre essa cena recifense.

Com depoimentos de seus criadores, companheiros e herdeiros, Jura Capela nos conta como que um movimento estético, vindo do mangue, aumentou a visibilidade das periferias e manifestações culturais da região metropolitana do Recife. Unindo diversas vertentes como música, cinema, artes visuais e literatura, o Manguebeat não só se consolidou um dos mais importantes movimentos culturais das últimas décadas, mas também gravou para a posteridade nomes como Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, o festival Abril Pro Rock, entre outros.

Outra que me chamou muita atenção logo de cara foi Maracatu Atômico. Cara, com um nome desse 🙂 Som que demoraria muito tempo para eu descobrir tratar-se de uma música de Gilberto Gil. Lúcio Maia, o ótimo guitarrista da Nação Zumbi, inclusive, fala no filme que eles eram bons de regravação. Concordo totalmente até porque, muito tempo depois, em 2017, a Nação Zumbi cometeria Radiola NZ, um ótimo disco de covers:

Quando um filme termina e eu tenho vontade de fazer um monte de coisa relacionada a ele, é porque realmente curti muito. No caso, vim logo escrever isso, ouvindo as bandas do movimento, buscar meus CD no fundo do armário, ripar, ler o encarte. Relembrar essa macumba. Salve Chico Science!

Precisamos falar sobre Daniel Blake

eu daniel blake

Cena do banco de alimentos, uma das mais emocionantes

Vai ver é porque minha aposentadoria não tá tão longe. Ou porque a aposentadoria de meu pai e outras pessoas próximas se mostrou um desastre. Um que de concordar que o sistema previdenciário precisa ser discutido no Brasil. Um tanto de coração mole mesmo. Fato é que Eu, Daniel Blake, filme inglês do diretor Ken Loach, foi o que mais gostei de todos que vi nesse período pré e pós Oscar 2017 ( o filme foi ignorado pela Academia, mas venceu a Palma de Ouro).

Não há como passar incólume à saga de Dan atrás de seu auxílio desemprego numa Inglaterra também atingida por crise financeira. Seu vizinho negro, “China”, “importa” tênis caros atravessados da China por um funcionário da empresa fabricante para vendê-los pela metade do preço nas ruas. Será essa uma causa ou efeito da tal crise, esse aterrador monstro de nome curto e efeito devastador? Sessões do filme terminaram aos gritos de “Fora, Temer” em alguns locais no Brasil. Conhecemos o problema. A história do senhor carpinteiro que não pode trabalhar porque a médica não deixa, de sua amiga mãe solteira que não consegue emprego pra criar dignamente seus filhos, e a crueldade do sistema perante tudo isso, é não menos do que um soco no estômago.

McCullin

“Suas fotografias são muito honestas, tão impetuosas e com tanto significado, não podemos correr o risco de você usar liberdade de expressão (…) Porque se importou em arriscar a sua vida pra dizer a verdade?” é o que pergunta em dado momento Harold Evans, editor chefe do Sunday Times por 14 anos, período em que foi o chefe do fotógrafo Don McCullin, que naquele momento deste excelente documentário disponivel Netflix (dica do Maurício Valladares), tinha sido preterido por outros jornalistas e não foi enviado para a Guerra das Malvinas. Isso no momento que o Clash entoa “This is England”. McCullin, como ele mesmo cita no filme, “viciado em guerras”, vai então para a Guerra do Líbano, onde mais uma vez tem contato com as atrocidades que o homem é capaz de cometer (e acaba sendo seu último trabalho do tipo, também motivado por encontrar crianças de dois anos, cegas, débeis e insanas internadas em condições desumanas em Beirute, em 1982).

A visão do soldado em choque, uma das premiadas imagens de Mc Cullin

A visão do soldado em choque, uma das premiadas imagens de Mc Cullin

As imagens captadas por McCullin serviram para que muitos americanos se colocassem contra a Guerra do Vietnã. As imagens incomodam, chocam, em muitos momentos do filme é preciso ter estômago forte.

mccullin1

E hoje? Quem está documentando os horrores causados pelo Estado Islâmico? Não existem mais jornalistas corajosos como aquele britânico de origem humilde? Ninguém se choca mais com a guerra? No cenário atual seria impossível adentrar a realidade da guerra como fez Don? Assistir ao filme não vai responder a essas perguntas, mas vai mais uma vez nos fazer perguntar que porra de “humanidade” escrota é essa.

Amor e fúria

Sério, “Uma história de amor e fúria” é um dos melhores filmes nacionais de todos os tempos e merece todos os muitos prêmios que recebeu. Grande história, grande trilha sonora, uma baita produção brasileira sobre viver tomando na cabeça, sobre lutar por alguma coisa, sobre viver em combate, sobre atravessar os tempos brigando pelo que você acha certo. Nada de vencer, lutar apenas.

“Meus heróis não viraram estátua, morreram lutando contra aqueles que viraram”

Lutador

“E veio a porra do Cobain e fudeu com tudo”. Como me chamou a atenção essa passagem do ótimo The Wrestler, com o figura Mickey Rourke. Em dado momento ele, Randy The Jam, e Marisa Tomei, no papel de uma decadente stripper, começam a, doidões, cantarolar hits oitentistas total “wasp” (Guns, Def Leppard), aquelas músicas de arena, sexistas e tal, que marcaram a década de 80 na América. E ao citarem que Kurt Cobain “fudeu com tudo”, por causa do baixo-astral de suas letras e ainda, bem sabemos, iniciar uma nova ordem mundial, vejo o quanto a música pode ser marcante na vida gente: para eles a derrocada daquele estilo poser (em contraste total à vida de seus personagens), que sucumbiu ante à melancolia do Nirvana, foi motivo de tristeza e depressão. E eu aqui, pensando naquele show maravilhoso e histórico de Kurt, Dave e Krist no Rock’n’Rio em 93, que me fez mergulhar de cabeça no então underground americano, fascinado que fiquei por aquela barulheira. Minha música preferida até então? Sweet child o’ mine, vai vendo …

Uretano

Acabo de assistir a “Dirty Money”, emocionante documentário sobre a história do skate no Brasil. Confesso que, por não praticar o esporte, estava buscando algo sobre a cena do hardcore brasileiro no início dos 90’s, que eu acompanhei tão de perto, trocando zines e flyers, assistindo a toscos vídeos gravados em VHS e, principalmente, colecionando demo tapes das bandas da época. Bem, pouco se fala de música no filme a não ser a menção do lançamento do Cold Beans, banda do grande Cesar Carpanez, de tantos bons seviços prestados à música brasileira.

Taí a cena do filme que mostra o EP do Cold Beans que, claro, tá na minha coleção, duvida?

Bem, pra quem não é da época pode não dizer muita coisa mas, pro veinho aqui, carai, emocionante.

Brasil

Raro momento de folga aqui no QG. Mais um filminho. Nacional, claro. Se nada mais der certo. Logo no início, citação de Rosseau: “Uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha que se vender a alguém”. O release perfeito para um filme muito bacana. Que termina e aguça minha vontade de ouvir música brasileira: velharias como Gueto e DeFalla, rap sensacional de Flora Matos e Emicida. Tudo dos Monstros de Goiânia (Black Drawing Chalks matou minha tristeza pelo fim do Hellacopters). Desculpe, eu não preciso de enlatados gringos. Não mesmo, obrigado.

Anima

Acho que meu primeiro contato com animações foi uma reportagem de TV sobre o Anima Mundi. Uma matéria sobre animações em 2 e 3D, massinhas, japoneses, etc. Desde então fiquei fã do festival e virei caçador de animações pela internet. Meu HD está cheio delas. Eu não sei se é ‘pior’ ser da geração Pica-pau e Tom & Jerry, ou da geração Toy Story e Vida de Inseto, ou de Wall-E e Tá Chovendo Hamburguer. A verdade é que todas essas obras parecem que não perdem o poder de cativar gerações inteiras ao redor do mundo.
Quando li hoje o Chico citando que seu filme preferido é Meu Vizinho Totoro, estranhei. Totoro? Animação japonesa de 1988 que eu não conheço! E olha que foi eleita a melhor animação de todos os tempos! Pelo trailer parece bem infantil, com aquelas musiquinhas meio chatas. Vou esperar e deixar pra ver quando o Arturzinho já estiver entendendo melhor esse divertido mundo in motion.

O cara

Obama? Lula? Tsc tsc. Joe Strummer é o cara. I wanna riot. Um documentário de 2007 que eu ainda não vi. Mas o trailer já acelerou meus batimentos.

strummer

Aproveita e dá uma olhada no site da Strummerville, fundada por amigos e familiares do cara, e que dá suporte a novos músicos. Caridade com grife.

Sessão da Tarde

old_tv

Eu não via muito a Sessão da Tarde. Acho que por ter uma mãe que não gostava muito da ideia e fazia de tudo pra que eu ficasse estudando ou inventava umas tarefas pra ajudá-la em casa (e isso não é uma reclamação), mas é fato que essa sessão de cinema está no imaginário da galera que hoje tem seus 30 e muitos. Como muita coisa na TV a Sessão da Tarde já não é de longe a mesma, e foi bom relembrar essa listinha do Top 20 do Filmes do Chico.

  • O Enigma da Pirâmide
  • Os Fantasmas se Divertem
  • O Maior Espetáculo da Terra
  • O Último Guerreiro das Estrelas
  • Ladyhawke, o Feitiço de Áquila
  • Um Príncipe em Nova York
  • As Aventuras de Robin Hood
  • Uma Aventura na Arábia
  • A Menina e o Porquinho
  • Um Convidado Bem Trapalhão
  • Fúria de Titãs
  • Os Aventureiros do Bairro Proibido
  • Estes Homens Maravilhosos e Suas Fantásticas Máquinas Voadoras
  • Febre de Juventude
  • Jasão e o Velo de Ouro
  • O Clube dos Cinco
  • Os Goonies
  • Errado pra Cachorro
  • As 7 Faces do Dr. Lao
  • Curtindo a Vida Adoidado

Legal. Mas cadê Karate Kid e cadê, principalmente, Stand By Me??

Desktop of the day

Em homenagem ao filme do ano, um desktop muito simples (ícones aqui), já que eu não curto muito esse widgets, desklets, etc, que, claro, rendem belos desktops mas, enfim, como ficamos quase o tempo todo olhando para a cara do Firefox mesmo, acho que um desktop enfeitado demais só serve mesmo pra impressionar os amigos…